domingo, 11 de dezembro de 2016

Gaston de Cerjat e a Estrada de Ferro do Assunguy

O Decreto nº 298, de 27 de julho de 1906, do Governo do Paraná, concedeu a Gaston de Cerjat, ou a empresa que o mesmo organizasse, privilégios para a construção, uso e gozo da ferrovia Curitiba - Rio Branco do Sul.

Quem foi Gaston de Cerjat?

Gaston de Cerjat (n. Suíça, 1857 - f. França, Paris, 1935), casado com Henriette Van Denberg, em 1896. Engenheiro franco-suíço.

(Cf. Genealogia de Gaston de Cerjat: Disponível em: http://www.gen-gen.ch/de+CERJAT/Gaston/226311?CheckCookie=1. Acesso em: 11/12/2016).

Pelo jornal A República, publicado em Curitiba, foi possível acompanhar algumas das atividades de Gaston de Cerjat no Brasil (jornal disponível em: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx).

No ano de 1893 consta que o Sr. Dr. Gaston de Cerjat, engenheiro, morava em Curitiba. Era representante da Societé Dyle & Bacalan, com sede jurídica na capital do Paraná (e que tentou junto ao governo a concessão para a construção da ferrovia Curitiba - Assunguy, a partir de 1896) e Diretor da Compagnie General de Chemins de Fer Bréziliéns (A República, Curitiba, 04/01/1893). Portanto, é provável que Cerjat tenha vindo ao Brasil como alto funcionário da Compagnie que foi responsável pela construção da Estrada de Ferro Curitiba - Paranaguá inaugurada em 1885.

Entre 1894 a 1902 consta que foi Diretor da Estrada de Ferro do Paraná que permaneceu sob a administração da Compagnie General de Chemins de Fer Bréziliéns até o ano de 1902, quando o Governo Federal a incorporou ao patrimônio nacional pela importância de 91.569.110 francos (cf. KROETZ, 1985).

Como diretor da Estrada de Ferro do Paraná, Gaston de Cerjat viajou muitas vezes à capital federal e à Europa; em Curitiba, participava de importantes eventos sociais; era próximo de políticos paranaenses, como o Dr. Vicente Machado, Dr. João Cândido Ferreira, Dr. Francisco Xavier da Silva, de autoridades catarinenses e de políticos e funcionários do Governo Federal. E de outras personalidades, como embaixadores. Destaca-se, em especial, sua ligação com o empresário Percival Farquhar, na qual consta inúmeras trocas de correspondências entre os anos de 1909 e 1910 (cf. ESPIG, 2008).

Com o fim da Compagnie General de Chemins de Fer Bréziliéns, em 1904, Dr. Gaston de Cerjat aparece comprando 205 hectares de terras tidas como devolutas, no lugar denominado "Paredão", Fazenda Guaraúna, colônia Taquari, Comarca de Ponta Grossa (A República, 05/10/1904).

Dr. Gaston de Cerjat passou, também, a ser representante do Governo do Paraná em Paris. No ano de 1906, ele foi autorizado pelo Dr. João Cândido Ferreira (Vice-governador) a realizar um empréstimo externo com The Ethelburga Syndicate Limited, de Londres (A República, 15/02/1906) provavelmente para a construção da estrada de ferro da qual ele iria ser o responsável, entre Curitiba e Rio Branco; foi possível encontrar outras transações econômicas em que ele representou o Paraná na Europa.

E foi no dia 28/07/1906 que Cerjat assinou o contrato de início da construção do 1º trecho da Estrada de Ferro do Assunguy, de Curitiba com destino a Rocinha, Votuverava (atual Rio Branco do Sul), num total de 43.300m. sendo que a inauguração do início dos trabalhos aconteceram no dia 19/12/1906 - Conferir o contrato da concessão no Jornal A República (28/08/1906).

Em 1907, Gaston de Cerjat passa a fazer parte da diretoria da Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande (A República, 18/02/1907), mas, continuando com as obras da Estrada de Ferro do Assunguy. Dr. Gaston de Cerjat solicita ao Governo do Paraná a prorrogação do prazo de concessão de privilégios para 90 anos dessa ferrovia. Alguns deputados estaduais, como o sr. Celestino Junior (filho do ex-deputado provincial pelo Paraná, José Celestino de Oliveira), questionaram a concessão como uma das "mais onerosas para o Estado" (A República, 08/05/1907), bem como seu "zig-zagueante" traçado. Mas, a Assembleia Legislativa aprova a concessão. Nesse mesmo ano o concessionário Dr. Gaston de Cerjat foi autorizado a passar para a Companhia Estrada de Ferro Norte do Paraná os direitos e obrigações da mesma.

O trecho da ferrovia Curitiba - Rio Branco foi inaugurado no dia 28/02/1909 com grande festa pela população local e autoridades (A República, 01/03/1909).

No ano de 1910 a Companhia Estrada de Ferro Norte do Paraná foi incorporada pela Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande, sendo seu diretor o Dr. Gaston de Cerjat. Ele era o Diretor Geral da Brazil Railway Company (A República, 21/12/1910), que administrava estas ferrovias. Foi, também, superintendente da Ferrovia Madeira e Mamoré, em 1909; superintendente da Sorocabana Railway, em 1910. E, continuando as atividades na Ferrovia São Paulo - Rio Grande.

Porém, depois disto, seu nome desaparece do jornal paranaense A República [entre 1911 a 1929]. E, apenas, volta a surgir em 1929. É, provável, que tenha continuado suas atividades ligadas à direção das ferrovias no Brasil ou teria voltado para a Europa.

Em 1929, com 72 anos, Dr. Gaston de Cerjat consta como acionista e presidente da Companhia Agrícola, Florestal e de Estrada de Ferro "Monte Alegre", em Curitiba, junto com personalidades políticas como o senador Dr. Marins Alves de Camargo (A República, 27/04/1929). A Companhia foi criada para explorar recursos naturais na região de Tibagi, além de ser uma área para colonização. Mas, a Companhia veio a falir já em 1931. A Companhia se dispunha a explorar uma grande fazenda que pertenceu ao sesmeiro José Felix da Silva e sua esposa Onistarda, que depois, passou a seu neto Manoel Ignácio do Canto e Silva e seu genro Barão de Monte Carmello, Bonifácio José Baptista, que chegaram a ser deputados provinciais do Paraná.

Com a falência da Companhia, em 1931, os Irmãos Klabin compraram a fazenda do Governo do Paraná, em 1933.

Dr. Gaston de Cerjat foi certamente um dos mais importantes nomes da história das ferrovias no Paraná, sendo que sua influência foi fundamental para a realização da Ferrovia Curitiba - Rio Branco do Sul. Ele foi um grande articulador entre interesses privados e públicos na concretização de ferrovias, principalmente no sul do Brasil. E Dr. Gaston de Cerjat viveu um período de intenso desenvolvimento e suas consequências para o Brasil moderno.

Dr. Gaston de Cerjat faleceu em Paris, no dia 23/11/1935, com 78 anos; e a Assembleia Legislativa do Paraná, pelo deputado Caio Machado, filho do ex-governador Vicente Machado, propôs "um voto de pesar pelo seu passamento" (Jornal O Dia, Curitiba, 26/11/1935).

Para saber mais: 
Os paranaenses - Almira de Cerjat (centenário de nascimento em 2011) Disponível em: http://www.diarioinduscom.com/os-paranaenses-4-almira-de-cerjat-centenario-de-nascimento-em-2011/. Acesso em 11/12/2016.

Sobre as correspondências entre Gaston de Cerjat e Percival Farquhar:
ESPIG, Marcia Janete. (2008) Personagens do Contestado: Os turmeiros da estrada de ferro São Paulo - Rio Grande (1908-1915). Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/imagens/dossies/contestado/trabalhos/ESPIGMarciaJanete.pdf. Acesso em 11/12/2016.

Sobre as ferrovias no Paraná:
KROETZ, Lando Rogério. (1985) As estradas de ferro do Paraná, 1880-1940Disponível em: http://www.revistaferroviaria.com.br/upload/AS%20ESTRADAS%20DE%20FERRO%20DO%20PARAN%C3%81%201880-1940.pdf. Acesso em: 11/12/2016).

Texto elaborado por: Alessandro Cavassin Alves

Jornal O Dia, Curitiba, 26/11/1935