sábado, 18 de novembro de 2023

MADAME BOVARY, de Gustave Flaubert


Fazia muito tempo que queria ler o romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert, desde os tempos da Faculdade de Filosofia. E quando para lá retornei, ainda por um tempo demorei, mas então peguei o exemplar na Biblioteca da FASBAM, da Edições Melhoramentos (do pinheiro ao livro, uma realização melhoramentos) :). Outubro/novembro de 2023.

Toda literatura do século XIX que estou lendo, de certa forma, agora, me remete aos estudos que realizei no doutorado, sobre a política no século XIX no Paraná. Madame Bovary é um livro construído na década de 1850, publicado em 1857 e logo levou Flaubert a ser "processado na polícia correcional por ultraje à moral religiosa e aos bons costumes" (p.7, como nos conta Alfred Colling na Introdução da obra). Tal processo já nos remete a buscar entender a moral e aos costumes da época, mesmo que a referência seja a França. Em Curitiba não seria diferente. Casamentos arranjados entre a burguesia; relacionamentos sociais que envolvem clubes, festas, igreja e farmácia; A farmácia de Homais é o vislumbrar do positivismo, do cientificismo, do iluminismo, próprio desse século e dos jovens homens que conseguiam estudar. A igreja era representada pelo Padre Burnisien, presente fortemente na sociedade; e os dois têm discussões sobre a ciência e a religião; mas principalmente,  a obra nos leva a observar como era a vida doméstica (costumes de Província) de um casal pequeno burguês, Carlos e Ema Bovary.

Entretanto, é o papel da mulher neste período que Flaubert discute, apresentando uma personagem feminina, Ema Bovary, e como a mesma busca se realizar como pessoa ou busca se encontrar frente as possibilidades de um mundo que a limita, tanto economicamente, como moralmente. Ema não é apresentada como uma mulher excepcional, mas como todas as outras de seu tempo. Contudo, toda a obra está em volta da sua personalidade, de suas ações, de seus medos e desejos, de suas idealizações (bovarismo) e de seu consumismo, e portanto, ela se torna uma figura admirável, que nos faz pensar neste realidade social feminina.

Enfim, acredito que este romance me ajudou a tentar compreender um pouco melhor sobre as mulheres que acabei citando em minhas pesquisas sobre o século XIX. Principalmente mulheres que consegui saber um pouco mais de suas vidas, mesmo que os detalhes sobre elas sejam muito menores do que a dos homens. Daí remeto ao meu texto: "Famílias e casamentos na composição da Câmara de Vereadores de Curitiba no século XIX (1856-1889)", presente no livro: Nepotismo, parentesco e mulheres, organizado pelo Prof. Ricardo Costa de Oliveira.

Capa do livro: Nepotismo, Parentesco e Mulheres. 1ª ed. 2016.


As mulheres curitibanas, esposas de políticos citadas no meu texto:

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura 1857-1860: Domitilia Alves de Araujo; Anna Francisca Teixeira, Zeferina Candida do Nascimento, Ilecta da Silva [Electa Maria Caetano], Francisca de Paula Alves, Maria do Ceo Taborda Ribas, Gabriella Franco, Theolinda Affonso [Maria Theolinda de Jesus], Maria Rosa de Moraes Roseira, Florinda Maurícia de Sá Ribas, Rita Maria Miró.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura 1861-1864: Julia de Andrade, Anna Rufina de Macedo, Gertrudes da Silva Lopes, Escolástica Maria de Lima, Maria Ritta dos Santos, Maria Elisa da Cunha, Anna Maria do Sacramento, Zeferina Maria Luiza.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura 1865-1868: Felicidade Mourão de Pinho, Emilia Vidalina, Porfiria Maria da Conceição Freitas, Porcina Margarida de Oliveira Borges.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura 1869-1871: Ana Joaquina de Paula, Francisca Gonçalves dos Santos, Etelvina dos Santos de Oliveira Lima, Anardina Lecticia de Jesus Brandão, Francisca de Assis de Oliveira.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura 1871-1872: Helena Augusta Teixeira de Lima, Mathilde Januária de Souza, Maria da Conceição, Balbina Negrão, Anna Maria da Fontoura, Maria Francisca da Cruz Biscaia, Leodobina Francisca da Costa, Izabel Pereira e Benedicta do Carmo Britto, Escolástica Joaquina de Sá Ribas, Escolástica Ribas Franco, Alexandrina Maria dos Santos e Rita de Oliveira Ribas.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura de 1873-1876: Maria José dos Santos, Hermancia Borges Guimarães, Florencia do Amaral, Maria da Luz Osório Borges, Francisca Lourenço dos Santos, Virginia Marques dos Santos.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura de 1877-1880: Nercinda da Motta Ribeiro, Maria José Ribeiro, Anna Joaquina dos Santos, Francisca Ribeiro da Costa e Libânia Carneiro.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura de 1881-1882: Maria Joanna Gonçalves, Adelaide Maria do Nascimento, Virgilia de Macedo, Anna Flora Rodrigo, Maria Rita de Oliveira, Francisca Munhoz, Maria da Luz Ozório e Maria da Glória Craveiro, Amélia Pereira Jorge e Izabel Cortes.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura de 1883-1886: Josephina Drumond dos Reis, Ubaldina de Macedo, Carlota Sophia Dorothéa Kalckmann, Herminia Leopoldina Marques, Maria Clemência Nóbrega, Balbina Licia Munhoz, Thomazia Carolina Pedrosa, Maria Catharina Taborda Ribas, Joaquina de Paula Xavier e Januária B. Carvalho de Oliveira, Philomena Vianna.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura de 1887-1889: Maria José Correia, Hermancia Borges Guimarães e Maria Rosalina Caiut, Maria de Freitas, Francisca da Luz dos Santos, Rosa Fonseca, Olga Bendazeski, Anália Agner e Maria Rosa de Bittencourt, Fortunata de Oliveira Vianna.

A biografia dessas mulheres ajudaria em muito entender nossa história. 

Da mesma forma, fico a pensar nas mulheres da qual eu descendo, da parte paterna, que vivia no litoral de Santa Catarina no século XIX, uma delas chamada de Leopoldina da Silveira Goulart (minha tataravó) e Maria Leopoldina dos Santos (minha bisavó), provavelmente receberam esse nome tendo como referências mulheres da monarquia brasileira, Maria Leopoldina e Leopoldina de Bragança. Por parte materna, cito Ângela Bonatto (minha tataravó), nascida em 1845, na região norte da Itália. 

Referências

ALVES, Alessandro Cavassin. Famílias e casamentos na composição da Câmara de Vereadores de Curitiba no século XIX (1856-1889). In: OLIVEIRA, Ricardo Costa de. Nepotismo, parentesco e mulheres. Curitiba: RM Editores, 2016.

FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. Costumes de Província. Tradução de Genésio Pereira Filho. Ilustrações de Wilhelm M. Busch. São Paulo: Edições Melhoramentos.