segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

1984, George Orwell

 

    Depois de ler Fahreinheit 451, troquei com minha sobrinha Bruna o livro, pelo 1984 de George Orwell. Já conhecia parcialmente a história, mas ler todo o livro me trouxe a dimensão do que Orwell buscou apresentar como um sistema totalitário (totalitarismo absoluto) que limita a iniciativa humana, buscando gerar a obediência e o amor incondicional ao sistema político representado pelo Partido e ao Grande Irmão - Big Brother.

    O livro 1984 foi publicado em 1949, no período pós guerra mundial e todo um clima de que novos totalitarismo voltassem ainda com mais rigor, como forma de combater ao "inimigo" e de controle, inclusive na Inglaterra e EUA, vencedores da guerra e símbolos da democracia e liberalismo.

    A história, portanto, é complexa, e perpassa pelas reflexões do personagem Winston Smith, mostrando um mundo deprimente e sem sentido, devido ao totalitarismo político (primeira parte do livro). Quando Winston começa a encontrar um sentido para a vida, isso se dá na convivência com Julia, vivendo um possível amor, que foge ao controle do Partido, mas os dois são descobertos pela polícia da ideias e suas teletelas (segundo parte do livro). Daí um final que foge aos padrões de feliz (terceira parte do livro).

    Ao longo do romance, vários pontos podem ser discutidos pelos leitores, como a questão do totalitarismo político, que pode ocorrer em qualquer lugar, cerceando a liberdade e iniciativas dos cidadãos e a vigilância total; discutir os três slogans do Partido: Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força (p.14, p.27); sobre os proletas (referindo-se aos proletários que são a maioria da população, mas sem iniciativa, e que realizam toda a atividade produtiva), os membros do Partido, divididos em membros Externos (extremamente vigiados e que realizam os trabalhos burocráticos) e a cúpula do Partido e o Grande Irmão - eis a estratificação social desta sociedade; a criação dos inimigos do sistema político e o culto ao ódio; as teletelas (câmeras) e microfones vigiando tudo e todos, mas principalmente os membros do Partido; o estado constante de guerra (que se repete em Fahreinheit 451); notícias a partir de uma única fonte; a escassez econômica como forma de controle; a questão do poder pelo poder; patriotismo e nacionalismo sem sentido; a Novafala; a esperança de mudança poderia vir dos proletas, mas ao mesmo tempo, da impossibilidade disto acontecer (p.88); a questão da tortura; o duplipensamento; solipsismo; a repartição do mundo em três grandes áreas de influência; entre tantos temas.

    Me chamou a atenção a questão de como o sistema totalitário reescrevia constantemente a história de acordo com seus interesses; e mesmo escrevendo, a cada tempo, modificando aquilo que estava escrito; e essa era a função do Winston. Tudo tinha de ser aquilo que o Partido definia como verdade e ao mesmo tempo, essa verdade se modificava, por novas verdades, num constante embaralhar para que não fosse necessário mais saber o que é a verdade ou como foi a história: "Tudo se esmaecia na névoa. O passado fora anulado, o ato da anulação fora esquecido, a mentira se tornara verdade" (p.94);

    Enfim, sistemas totalitários devem ser estudados e debatidos; a reflexão sobre os mesmos são imprescindíveis; trazer para a sala de aula o tema, é fundamental.

Referência

ORWELL, George. 1984. tradução Alexandre Hubner, Heloisa Jahn; posfácios Erich Fromm, Ben Pimiott, Thomas Pynchon. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

Muito interessante, nesta edição da Companhia das Letras, os posfácios dos seguintes autores: Erich Fromm (1961); Ben Pimlott (1989); e Thomas Pynchon (2003).

E o filme: 1984. Direção: Michael Radford.