Terminando de ler este clássico da literatura, novamente pensei em como utilizar nas aulas de Sociologia essa distopia, de Ray Douglas Bradbury, publicada em 1953. Eu li a versão de bolso da Editora Globo, de 2009.
O livro impressiona em vários aspectos que fazem pensar na sociedade: a possibilidade de uma sociedade conduzida pelos meios de comunicação de massa como únicas fontes de informação e entretenimento, pelo sensacionalismo midiático e os já possíveis reality shows com a desgraça alheia; consequentemente, das fakenews; De casas em que as telas de TV são prioridades; O passado e a própria memória sobre as coisas ou sobre a história não é mais importante; Da possibilidade de guerras constantes, mas que os cidadãos não sabem o que está acontecendo e nem querem saber, apenas são convocados para participarem; De se apresentar apenas um lado da moeda (ou nenhum), para que a reflexão e a dúvida não aconteçam (seria a falsa paz de espírito), como diz Beatty: "(...) Encha as pessoas com dados incombustíveis, entupa-as tanto com "fatos" que elas se sintam empanturradas, mas absolutamente "brilhantes" quanto a informações. Assim, elas imaginarão que estão pensando, terão uma sensação de movimento sem sair do lugar. E ficarão felizes, porque fatos dessa ordem não mudam. Não as coloque em terreno movediço, como filosofia e sociologia, com que comparar suas experiências (...)" (p.92-93).
Hoje, tendo como referência os anos de 2022 e 2023, a Filosofia e a Sociologia no Ensino Médio no Paraná estão com menos espaço na grade curricular, como se dissessem: "para que confundir os estudantes, para que pensar, o importante é o fazer, é o emprego, é o prazer e a felicidade".
Mas, toda a história trata do fato dos bombeiros queimarem os livros, dos livros serem proibidos por trazerem ideias, afinal, as ideias não são mais necessárias. E o que mais assusta, é que o movimento de deixar de ler veio das próprias pessoas, como diz Faber: "(...) O próprio público deixou de ler por decisão própria. (...)" (p.127). O governo apenas aproveitou a situação e proibiu de vez a produção, circulação e armazenamento de livros.
Daí a necessidade de se defender a importância de ler, de divulgar a leitura, de demonstrar para todos, em especial aos estudantes, como é importante dedicar um tempo da nossa vida para isso e como a mesma pode nos ajudar a sermos pessoas melhores, a termos outras perspectivas em relação a diversos temas, a conhecermos mais histórias, enfim, ler é sempre importante.
Talvez, o mais desafiante do livro Fahrenheit 451 seria a sugestão de cada pessoa decorar um livro e ser o representante do mesmo neste mundo em que os livros são queimados. Daí me pergunto: Qual livro eu iria decorar?
No final da edição publicada pela Globo, existe um Suplemento de Leitura que sugere algumas atividades, em relação ao: I. Texto (com 13 perguntas de interpretação e compreensão do texto); II. Linguagem (referente aos meios de comunicação e da personagem Midred - a linguagem é reduzida ao mínimo possível de palavras); III. Redação (sugerindo a produção de textos, a partir de algumas ideias do livro); IV. Pesquisa (sobre distopias, sobre a Escola de Frankfurt, sobre a biografia de Bradbury e o contexto histórico norte-americano, e filmes que tratem de sociedades futuras); V. Atividades interdisciplinares; e VI. Sugestões de leitura (sugerindo apenas dois livros: Admirável mundo novo, de Aldous Huxley, publicado em 1932, e o livro 1984, de George Orwell, publicado em 1949); VII. Sugestões de filmes (com três sugestões: o próprio Fahrenheit 451, de François Truffaut, de 1967 e o 1984, de Michael Radford, de 1984, e Admirável mundo novo, de Leslie Libman e Larrry William, de 1998; em 2018 é lançado uma nova versão de Fahrenheit 451, de Ramin Bahrani).
Referência
Bradbury, Ray. Fahrenheit 451: a temperatura na qual o papel do livro pega fogo e queima. Tradução Cid Knipel. São Paulo: Globo, 2009 (Coleção Globo do bolso).