sábado, 9 de novembro de 2024

Para a história. Notas sobre a invasão federalista no Estado do Paraná

 



Buscando entender melhor quem foi José Francisco da Rocha Pombo, peguei para ler Para a História, notas sobre a invasão federalista no Estado do Paraná. Mas, ao longo da leitura e depois de ler vários comentários sobre este livro, há uma grande probabilidade de não ter sido escrito por Rocha Pombo, mas sim por Leôncio Correia. Ou partes do livro seriam de Rocha Pombo, enfim, além do mistério do mesmo não estar completo.

O professor Carlos Alberto Antunes dos Santos teria sido quem encaminhou a publicação da obra (mesmo que parcial), pela Fundação Cultural de Curitiba, como consta no jornal Gazeta do Povo. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/rocha-pombo-a-solidao-de-um-historiador-anitfutteguoxbin4kucfxnbi/

Depois, a obra pode ser melhor estudada. Conferir o texto de João Cândido Martins: “Para a História”: a saga de um livro oculto por 85 anos, por João Cândido Martins — publicado 19/05/2015 14h15, última modificação 03/09/2020 16h55. Disponível em: https://www.curitiba.pr.leg.br/informacao/noticias/201cpara-a-historia201d-a-saga-de-um-livro-oculto-por-85-anos 

Por fim, um livro incrível, que, boa parte dele teria sido escrito no calor dos acontecimentos da terrível revolução federalista, que aconteceu entre 1893 e 1894. Após a leitura, é possível identificar toda a injustiça que ambos os lados realizaram, através da violência de uma guerra civil. A luta política e armada entre Pica-paus e Maragatos ou outros nomes dados a esta oposição política. E claro, a denúncia principal foi pela injustiça em forma de assassinato por parte do governo, do Barão de Serro Azul (Idelfonso Pereira Correia), importante figura política e empresarial de Curitiba, de Priscilliano Correia, negociante e político em Paranaguá, de José Joaquim Ferreira de Moura, tesoureiro da delegacia fiscal do Paraná, de José Schleder, também da tesouraria, de Balbino de Mendonça, da secretaria de Governo, e de Mattos Guedes, que também ocupou cargo na tesouraria.

Mas, para além da denúncia da injustiça que o retorno da legalidade trouxe para com os homens assassinados, além de outras tantas barbaridades, o que considerei interessante, é um viés sociológico no final da obra, no estilo durkheimiano, mesmo sem citá-lo, de que esta patologia social pudesse despertar na população brasileira, como um todo, inclusive nos governantes, um senso de aperfeiçoamento moral, em prol de uma evolução para com a construção de uma civilização que não permita mais que tais fatos ocorram na sociedade organizada, construída por meios legais, estabelecidos em uma Constituição Republicana, que defenda a liberdade, a igualdade, e a união.


segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Contos de Machado de Assis. Política e Escravidão

 


É fundamental ler Machado de Assis para entender a sociedade brasileira. Neste livro temos contos escritos sobre política e escravidão, sendo oito contos publicados entre 1864 a 1882 e mais cinco entre 1891 a 1906, mas todos se referem ao período anterior à República e anterior a abolição.

Cada conto tem sua particularidade, por exemplo, destaco "O Teles e o Tobias (Quadro de costumes políticos", de 1865, em que Machado de Assis descreve, a partir destes dois personagens e seus filhos, a vida política de um pequeno município (algo que busquei entender na minha tese de doutorado em Sociologia). Enfim, a literatura nos explicando como era a política neste período histórico. 

Ou pensando o Brasil como um todo, temos "Teoria do medalhão - diálogo", de 1881, ou mesmo "O velho senado", publicado em 1898, já em plena República, mas que retoma alguns dos principais políticos brasileiros (senadores do Império), suas características, ou mesmo, a organização desta instituição em que seus membros eram vitalícios no poder. A política como ela é, como nos diria Maquiavel, via literatura.

Sobre os contos sobre a escravidão, dói a alma ler sobre o assunto. A literatura traz a realidade dura e crua deste momento.

Vale a leitura de Machado de Assis, sempre, e a partir dele, formularmos reflexões sobre a nossa vida, a nossa sociedade, para que possamos nos entender como pessoas e como coletividade.

segunda-feira, 3 de junho de 2024

O avesso da pele, de Jeferson Tenório

 

https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9788535933390/o-avesso-da-pele-vencedor-jabuti-2021

        Frente as polêmicas do livro O avesso da pele, de Jeferson Tenório, a curiosidade também se torna um fator para a leitura e ainda bem, pois, o tema faz com que tenhamos uma sensibilidade maior para com a temática da chamada educação étnico-racial; e a leitura do romance, traz a trajetória de Pedro, que resgata o passado de sua família, e vem a tona o que significa ser pobre no Brasil, de ser negro, de ser professor, de ser policial, abrangendo um tempo entre as décadas de 1970 a 2010, todas essas condições, tendo como referência a cidade de Porto Alegre em sua maior parte. 

        Enfim, um livro provocante, que se lido pelo estudante do ensino médio, contribui para a sua formação; que se lido por todo brasileiro, ajuda a entender, através da literatura, a necessidade de pensarmos nossas relações sociais, as nossas relações humanas, e também, questões como a do racismo estrutural, que acaba sendo, o foco deste romance. É através da literatura que podemos pensar num todo na qual estamos inseridos, desde os nossos traumas individuais, até as questões mais complexas da vida social cotidiana; enfim, uma ligação entre estrutura e indivíduo e vice-versa, como nos ensina a Sociologia. E é a tênue relação entre literatura e realidade.

        Também, fazia tempo que queria ler algo próximo da realidade do que é ser professor e professora nos dias atuais; todo o desafio que a profissão exige, incluindo os preconceitos contra a mesma. Novamente, a sensibilidade do olhar de Jeferson Tenório, para com os professores. Muito impactante.

        Interessante ver a atividade realizada por estudantes sobre o livro: Alunos da Escola Polivalente trabalham "O avesso da pele" em sala de aula: https://www.gaz.com.br/alunos-da-escola-polivalente-trabalham-o-avesso-da-pele-em-sala-de-aula/ (acesso em 03/06/2024).

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Subsídios para a História de Rio Branco do Sul

Foi lançado o livro (físico e e-book) que retoma a história de Rio Branco do Sul, como um subsídio, com destaque à história política deste município, a partir das pesquisas do historiador Celso Lima e do jornalista Rupert Mayer, ambos já falecidos, e que, por algum motivo, não conseguiram publicar o mesmo. Apesar do destaque para datas e nomes de políticos, padres, e alguns fatos específicos, este é um início de uma história escrita que faltava e, novas histórias, de diferentes perspectivas, são convidadas a serem contadas.


Este é um importante subsídio para a história de Votuverava, Açungui e, depois, Rio Branco do Sul. Faltava um material inicial sobre o tema, de uma região tão antiga, denominada de Paraná tradicional. Isso, sem contar a presença indígena.

Pude ajudar na organização do livro, junto com a historiadora Milena Mayer. O texto base já tinha sido escrito por Celso Lima e Rupert Mayer.

Reportagem por parte dos incentivadores para que o livro pudesse ser publicado: https://riobrancodosul.atende.net/cidadao/noticia/cultura-recebe-exemplares-do-livro-subsidios-para-a-historia-de-rio-branco-do-sul. Acesso em 01/04/2024.

https://riobrancodosul.atende.net/cidadao/noticia/lancamento-do-livro-subsidios-para-a-historia-de-rio-branco-do-sul-celebra-o-patrimonio-cultural-local. Acesso em 01/04/2024.

Link do livro: https://riobrancodosul.atende.net/cidadao/pagina/subsidios-para-a-historia-de-rio-branco-do-sul. Acesso em 01/04/2024.

Referência: Subsídios para a História de Rio Brando do Sul. Organizado por Celso Lima (in memoriam); Rupert Mayer (in memoriam); Alessandro Cavassin Alves; Milena Santos Mayer. Ponta Grossa: Estúdio Texto, 2024. 264 p., il. ; E-book - PDF

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Escolas e Educação no Paraná do século XIX

Estudos históricos e sociológicos sobre a Educação no Paraná no século XIX são interessantes para se compreender como o processo de ensino foi acontecendo neste Estado e no Brasil como um todo.

Da mesma forma, quando se lê esses estudos, pode-se pensar como foi que as escolas foram surgindo na região do Vale do Ribeira paranaense. 

Elaine Cátia Falcade Maschio. Escolarização Pública e Imigração Italiana. A constituição do ensino elementar das colônias ao município (1882-1912). Jundiaí: Paco Editorial, 2014.

O livro de Elaine Falcade Maschio apresenta como os imigrantes italianos no município de Colombo foram exigindo das autoridades paranaenses o direito a educação formal; pedidos de escolas públicas, de professores, de materiais. E isso acabava abrangendo toda a região e sua população. Destaco que muitos parentes meus estavam envolvidos.

Juarez José Tucchinski dos Anjos. Uma trama na História. A criança no processo de escolarização primária nas últimas décadas do período imperial. Curitiba: Ed. UFPR, 2018.

O livro de Juarez Anjos apresenta características da educação no Paraná, em especial no município da Lapa, buscando entender a criança dentro deste ambiente institucional do século XIX. E para isso, foi reconstruindo a trajetória de alguns sujeitos da educação, como professores e alunos. 

Os dois livros apresentam, também, uma gama enorme de outros estudos sobre o período, tudo isso contribuindo para que possamos pensar sobre este tema fundamental na sociedade, que é a educação.




segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

1984, George Orwell

 

    Depois de ler Fahreinheit 451, troquei com minha sobrinha Bruna o livro, pelo 1984 de George Orwell. Já conhecia parcialmente a história, mas ler todo o livro me trouxe a dimensão do que Orwell buscou apresentar como um sistema totalitário (totalitarismo absoluto) que limita a iniciativa humana, buscando gerar a obediência e o amor incondicional ao sistema político representado pelo Partido e ao Grande Irmão - Big Brother.

    O livro 1984 foi publicado em 1949, no período pós guerra mundial e todo um clima de que novos totalitarismo voltassem ainda com mais rigor, como forma de combater ao "inimigo" e de controle, inclusive na Inglaterra e EUA, vencedores da guerra e símbolos da democracia e liberalismo.

    A história, portanto, é complexa, e perpassa pelas reflexões do personagem Winston Smith, mostrando um mundo deprimente e sem sentido, devido ao totalitarismo político (primeira parte do livro). Quando Winston começa a encontrar um sentido para a vida, isso se dá na convivência com Julia, vivendo um possível amor, que foge ao controle do Partido, mas os dois são descobertos pela polícia da ideias e suas teletelas (segundo parte do livro). Daí um final que foge aos padrões de feliz (terceira parte do livro).

    Ao longo do romance, vários pontos podem ser discutidos pelos leitores, como a questão do totalitarismo político, que pode ocorrer em qualquer lugar, cerceando a liberdade e iniciativas dos cidadãos e a vigilância total; discutir os três slogans do Partido: Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força (p.14, p.27); sobre os proletas (referindo-se aos proletários que são a maioria da população, mas sem iniciativa, e que realizam toda a atividade produtiva), os membros do Partido, divididos em membros Externos (extremamente vigiados e que realizam os trabalhos burocráticos) e a cúpula do Partido e o Grande Irmão - eis a estratificação social desta sociedade; a criação dos inimigos do sistema político e o culto ao ódio; as teletelas (câmeras) e microfones vigiando tudo e todos, mas principalmente os membros do Partido; o estado constante de guerra (que se repete em Fahreinheit 451); notícias a partir de uma única fonte; a escassez econômica como forma de controle; a questão do poder pelo poder; patriotismo e nacionalismo sem sentido; a Novafala; a esperança de mudança poderia vir dos proletas, mas ao mesmo tempo, da impossibilidade disto acontecer (p.88); a questão da tortura; o duplipensamento; solipsismo; a repartição do mundo em três grandes áreas de influência; entre tantos temas.

    Me chamou a atenção a questão de como o sistema totalitário reescrevia constantemente a história de acordo com seus interesses; e mesmo escrevendo, a cada tempo, modificando aquilo que estava escrito; e essa era a função do Winston. Tudo tinha de ser aquilo que o Partido definia como verdade e ao mesmo tempo, essa verdade se modificava, por novas verdades, num constante embaralhar para que não fosse necessário mais saber o que é a verdade ou como foi a história: "Tudo se esmaecia na névoa. O passado fora anulado, o ato da anulação fora esquecido, a mentira se tornara verdade" (p.94);

    Enfim, sistemas totalitários devem ser estudados e debatidos; a reflexão sobre os mesmos são imprescindíveis; trazer para a sala de aula o tema, é fundamental.

Referência

ORWELL, George. 1984. tradução Alexandre Hubner, Heloisa Jahn; posfácios Erich Fromm, Ben Pimiott, Thomas Pynchon. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

Muito interessante, nesta edição da Companhia das Letras, os posfácios dos seguintes autores: Erich Fromm (1961); Ben Pimlott (1989); e Thomas Pynchon (2003).

E o filme: 1984. Direção: Michael Radford.