sábado, 23 de dezembro de 2023

Fahrenheit 451, de Ray Bradbury




Terminando de ler este clássico da literatura, novamente pensei em como utilizar nas aulas de Sociologia essa distopia, de Ray Douglas Bradbury, publicada em 1953. Eu li a versão de bolso da Editora Globo, de 2009.

O livro impressiona em vários aspectos que fazem pensar na sociedade: a possibilidade de uma sociedade conduzida pelos meios de comunicação de massa como únicas fontes de informação e entretenimento, pelo sensacionalismo midiático e os já possíveis reality shows com a desgraça alheia; consequentemente, das fakenews; De casas em que as telas de TV são prioridades; O passado e a própria memória sobre as coisas ou sobre a história não é mais importante; Da possibilidade de guerras constantes, mas que os cidadãos não sabem o que está acontecendo e nem querem saber, apenas são convocados para participarem; De se apresentar apenas um lado da moeda (ou nenhum), para que a reflexão e a dúvida não aconteçam (seria a falsa paz de espírito), como diz Beatty: "(...) Encha as pessoas com dados incombustíveis, entupa-as tanto com "fatos" que elas se sintam empanturradas, mas absolutamente "brilhantes" quanto a informações. Assim, elas imaginarão que estão pensando, terão uma sensação de movimento sem sair do lugar. E ficarão felizes, porque fatos dessa ordem não mudam. Não as coloque em terreno movediço, como filosofia e sociologia, com que comparar suas experiências (...)" (p.92-93).

Hoje, tendo como referência os anos de 2022 e 2023, a Filosofia e a Sociologia no Ensino Médio no Paraná estão com menos espaço na grade curricular, como se dissessem: "para que confundir os estudantes, para que pensar, o importante é o fazer, é o emprego, é o prazer e a felicidade".

Mas, toda a história trata do fato dos bombeiros queimarem os livros, dos livros serem proibidos por trazerem ideias, afinal, as ideias não são mais necessárias. E o que mais assusta, é que o movimento de deixar de ler veio das próprias pessoas, como diz Faber: "(...) O próprio público deixou de ler por decisão própria. (...)" (p.127). O governo apenas aproveitou a situação e proibiu de vez a produção, circulação e armazenamento de livros.

Daí a necessidade de se defender a importância de ler, de divulgar a leitura, de demonstrar para todos, em especial aos estudantes, como é importante dedicar um tempo da nossa vida para isso e como a mesma pode nos ajudar a sermos pessoas melhores, a termos outras perspectivas em relação a diversos temas, a conhecermos mais histórias, enfim, ler é sempre importante.

Talvez, o mais desafiante do livro Fahrenheit 451 seria a sugestão de cada pessoa decorar um livro e ser o representante do mesmo neste mundo em que os livros são queimados. Daí me pergunto: Qual livro eu iria decorar?

No final da edição publicada pela Globo, existe um Suplemento de Leitura que sugere algumas atividades, em relação ao: I. Texto (com 13 perguntas de interpretação e compreensão do texto); II. Linguagem (referente aos meios de comunicação e da personagem Midred - a linguagem é reduzida ao mínimo possível de palavras); III. Redação (sugerindo a produção de textos, a partir de algumas ideias do livro); IV. Pesquisa (sobre distopias, sobre a Escola de Frankfurt, sobre a biografia de Bradbury e o contexto histórico norte-americano, e filmes que tratem de sociedades futuras); V. Atividades interdisciplinares; e VI. Sugestões de leitura (sugerindo apenas dois livros: Admirável mundo novo, de Aldous Huxley, publicado em 1932, e o livro 1984, de George Orwell, publicado em 1949); VII. Sugestões de filmes (com três sugestões: o próprio Fahrenheit 451, de François Truffaut, de 1967 e o 1984, de Michael Radford, de 1984, e Admirável mundo novo, de Leslie Libman e Larrry William, de 1998; em 2018 é lançado uma nova versão de Fahrenheit 451, de Ramin Bahrani).

Referência

Bradbury, Ray. Fahrenheit 451: a temperatura na qual o papel do livro pega fogo e queima. Tradução Cid Knipel. São Paulo: Globo, 2009 (Coleção Globo do bolso).

sábado, 18 de novembro de 2023

MADAME BOVARY, de Gustave Flaubert


Fazia muito tempo que queria ler o romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert, desde os tempos da Faculdade de Filosofia. E quando para lá retornei, ainda por um tempo demorei, mas então peguei o exemplar na Biblioteca da FASBAM, da Edições Melhoramentos (do pinheiro ao livro, uma realização melhoramentos) :). Outubro/novembro de 2023.

Toda literatura do século XIX que estou lendo, de certa forma, agora, me remete aos estudos que realizei no doutorado, sobre a política no século XIX no Paraná. Madame Bovary é um livro construído na década de 1850, publicado em 1857 e logo levou Flaubert a ser "processado na polícia correcional por ultraje à moral religiosa e aos bons costumes" (p.7, como nos conta Alfred Colling na Introdução da obra). Tal processo já nos remete a buscar entender a moral e aos costumes da época, mesmo que a referência seja a França. Em Curitiba não seria diferente. Casamentos arranjados entre a burguesia; relacionamentos sociais que envolvem clubes, festas, igreja e farmácia; A farmácia de Homais é o vislumbrar do positivismo, do cientificismo, do iluminismo, próprio desse século e dos jovens homens que conseguiam estudar. A igreja era representada pelo Padre Burnisien, presente fortemente na sociedade; e os dois têm discussões sobre a ciência e a religião; mas principalmente,  a obra nos leva a observar como era a vida doméstica (costumes de Província) de um casal pequeno burguês, Carlos e Ema Bovary.

Entretanto, é o papel da mulher neste período que Flaubert discute, apresentando uma personagem feminina, Ema Bovary, e como a mesma busca se realizar como pessoa ou busca se encontrar frente as possibilidades de um mundo que a limita, tanto economicamente, como moralmente. Ema não é apresentada como uma mulher excepcional, mas como todas as outras de seu tempo. Contudo, toda a obra está em volta da sua personalidade, de suas ações, de seus medos e desejos, de suas idealizações (bovarismo) e de seu consumismo, e portanto, ela se torna uma figura admirável, que nos faz pensar neste realidade social feminina.

Enfim, acredito que este romance me ajudou a tentar compreender um pouco melhor sobre as mulheres que acabei citando em minhas pesquisas sobre o século XIX. Principalmente mulheres que consegui saber um pouco mais de suas vidas, mesmo que os detalhes sobre elas sejam muito menores do que a dos homens. Daí remeto ao meu texto: "Famílias e casamentos na composição da Câmara de Vereadores de Curitiba no século XIX (1856-1889)", presente no livro: Nepotismo, parentesco e mulheres, organizado pelo Prof. Ricardo Costa de Oliveira.

Capa do livro: Nepotismo, Parentesco e Mulheres. 1ª ed. 2016.


As mulheres curitibanas, esposas de políticos citadas no meu texto:

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura 1857-1860: Domitilia Alves de Araujo; Anna Francisca Teixeira, Zeferina Candida do Nascimento, Ilecta da Silva [Electa Maria Caetano], Francisca de Paula Alves, Maria do Ceo Taborda Ribas, Gabriella Franco, Theolinda Affonso [Maria Theolinda de Jesus], Maria Rosa de Moraes Roseira, Florinda Maurícia de Sá Ribas, Rita Maria Miró.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura 1861-1864: Julia de Andrade, Anna Rufina de Macedo, Gertrudes da Silva Lopes, Escolástica Maria de Lima, Maria Ritta dos Santos, Maria Elisa da Cunha, Anna Maria do Sacramento, Zeferina Maria Luiza.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura 1865-1868: Felicidade Mourão de Pinho, Emilia Vidalina, Porfiria Maria da Conceição Freitas, Porcina Margarida de Oliveira Borges.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura 1869-1871: Ana Joaquina de Paula, Francisca Gonçalves dos Santos, Etelvina dos Santos de Oliveira Lima, Anardina Lecticia de Jesus Brandão, Francisca de Assis de Oliveira.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura 1871-1872: Helena Augusta Teixeira de Lima, Mathilde Januária de Souza, Maria da Conceição, Balbina Negrão, Anna Maria da Fontoura, Maria Francisca da Cruz Biscaia, Leodobina Francisca da Costa, Izabel Pereira e Benedicta do Carmo Britto, Escolástica Joaquina de Sá Ribas, Escolástica Ribas Franco, Alexandrina Maria dos Santos e Rita de Oliveira Ribas.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura de 1873-1876: Maria José dos Santos, Hermancia Borges Guimarães, Florencia do Amaral, Maria da Luz Osório Borges, Francisca Lourenço dos Santos, Virginia Marques dos Santos.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura de 1877-1880: Nercinda da Motta Ribeiro, Maria José Ribeiro, Anna Joaquina dos Santos, Francisca Ribeiro da Costa e Libânia Carneiro.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura de 1881-1882: Maria Joanna Gonçalves, Adelaide Maria do Nascimento, Virgilia de Macedo, Anna Flora Rodrigo, Maria Rita de Oliveira, Francisca Munhoz, Maria da Luz Ozório e Maria da Glória Craveiro, Amélia Pereira Jorge e Izabel Cortes.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura de 1883-1886: Josephina Drumond dos Reis, Ubaldina de Macedo, Carlota Sophia Dorothéa Kalckmann, Herminia Leopoldina Marques, Maria Clemência Nóbrega, Balbina Licia Munhoz, Thomazia Carolina Pedrosa, Maria Catharina Taborda Ribas, Joaquina de Paula Xavier e Januária B. Carvalho de Oliveira, Philomena Vianna.

Esposas dos vereadores e juízes de paz de Curitiba na legislatura de 1887-1889: Maria José Correia, Hermancia Borges Guimarães e Maria Rosalina Caiut, Maria de Freitas, Francisca da Luz dos Santos, Rosa Fonseca, Olga Bendazeski, Anália Agner e Maria Rosa de Bittencourt, Fortunata de Oliveira Vianna.

A biografia dessas mulheres ajudaria em muito entender nossa história. 

Da mesma forma, fico a pensar nas mulheres da qual eu descendo, da parte paterna, que vivia no litoral de Santa Catarina no século XIX, uma delas chamada de Leopoldina da Silveira Goulart (minha tataravó) e Maria Leopoldina dos Santos (minha bisavó), provavelmente receberam esse nome tendo como referências mulheres da monarquia brasileira, Maria Leopoldina e Leopoldina de Bragança. Por parte materna, cito Ângela Bonatto (minha tataravó), nascida em 1845, na região norte da Itália. 

Referências

ALVES, Alessandro Cavassin. Famílias e casamentos na composição da Câmara de Vereadores de Curitiba no século XIX (1856-1889). In: OLIVEIRA, Ricardo Costa de. Nepotismo, parentesco e mulheres. Curitiba: RM Editores, 2016.

FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. Costumes de Província. Tradução de Genésio Pereira Filho. Ilustrações de Wilhelm M. Busch. São Paulo: Edições Melhoramentos.



 

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Dr. João José Pedrosa

 

Dr. João José Pedrosa e Belém do Pará


Imagem disponível no livro de Maria Nicolas, 130 anos de vida parlamentar paranaense. Curitiba: Assembleia Legislativa do Paraná, 1984.

        Ao estar em Belém do Pará (julho de 2023), lembrei de uma curiosidade histórica que cito em minha pesquisa de doutorado: Durante o Império, o paranaense, curitibano, do Partido Liberal, Dr. João José Pedrosa foi nomeado Presidente da Província do Pará em 29/01/1882, tomando posse em 27/03, mas acabou falecendo em 15/05/1882, com 37 anos. Faleceu solteiro.
        Uma morte rápida em Belém, com menos de 2 meses de trabalho. De acordo com o Diário de Notícias do Pará, a causa da morte teria sido uma "febre renitente com caracter typhico". Foi sepultado em Belém, e que os jornais locais divulgam como foi seu sepultamento e comentam sobre a Missa de 7º dia. Na Genealogia Paranaense, de Francisco Negrão, (Vol. 6, 1950, p. 76), comenta que seu corpo foi, posteriormente, transladado de Belém para Curitiba.
        Está disponível seu discurso de abertura da Assembleia Legislativa do Pará, em 23/04/1882 (Relatório de 1882). 
        Neste período áureo da extração da borracha, Belém era uma das principais capitais brasileira, com crescimento e desenvolvimento, como a inauguração do Theatro da Paz, em 1878.

Biografia


        João José Pedrosa nasceu em Curitiba, 03/02/1845; filho do comerciante português em Curitiba, Joaquim José Pedrosa e Maria Costa Pinto Pedrosa; com 12 anos foi ao Rio de Janeiro fazer o preparatório e já com 16 anos (1861) iniciava o curso de Direito em São Paulo, na mesma turma de Generoso Marques dos Santos, Joaquim Ignácio Silveira da Motta Junior, Ubaldino do Amaral, Tristão Cardoso de Menezes, José dos Santos Pacheco Lima e José de Souza Ribas, enfim, jovens que foram posteriormente atuantes na política paranaense e brasileira. Formou-se em 27/11/1865, com 20 anos. 
        Ao regressar a Curitiba foi nomeado Procurador Fiscal do Tesouro de Fazenda do Paraná; no ano seguinte foi eleito deputado provincial do Paraná, para a legislatura 1868/69, com 22 anos; era do Partido Liberal; posteriormente foi eleito vereador e presidente da Câmara de Curitiba, na legislatura 1873/76, momento em que travou acalorados debates com outros políticos (é possível acompanhar as atividades políticas deste período no jornal Dezenove de Dezembro, de Curitiba, entre outros jornais locais). 
        Sua carreira política, então, foi para além do Paraná. Como um dos líderes do Partido Liberal em Curitiba, acabou sendo nomeado Presidente da Província do Mato Grosso (06/07/1878 a 05/12/1879), com 33 anos, onde fez inúmeros trabalhos e seus discursos políticos no Mato Grosso podem ser consultados.
        Retorna ao Paraná e acaba sendo nomeado Presidente da Província do Paraná (04/08/1880 a 03/05/1881), sendo o 1º paranaense a assumir essa posição, e época em que recebeu a visita de D. Pedro II no Paraná para a inauguração da pedra fundamental do início da construção da ferrovia Curitiba-Paranaguá; período em que recebe a Comenda da Ordem da Rosa (31/08/1880), tornando-se Comendador, com 35 anos; também seus discursos políticos podem ser consultados (Relatório de 1881a; Relatório de 1881b; consultar, também, os jornais paranaenses da época).
        No ano seguinte, foi nomeado Presidente da Província do Pará, uma região em desenvolvimento, graças a borracha, onde faleceu precocemente.
        A vida de João José Pedrosa pode ser considerado um exemplo típico do jovem bacharel, pertencente a uma família da elite local, para este caso, curitibana, com a habilidade de ser, também, um bom orador, e que ao longo do tempo vai ocupando diversos cargos públicos, além de sua profissão liberal ou da riqueza econômica de sua família. 
        Na Genealogia Paranaense, de Francisco Negrão, (Vol. 6, 1950, p.75-76), o autor apresenta a família Pedrosa dentro da genealogia das famílias tradicionais do Paraná. 
        João José Pedrosa teve mais 8 irmãos. Um deles, foi Joaquim José Pedrosa.

Joaquim José Pedrosa

        Seu irmão Joaquim José Pedrosa (mesmo nome do pai), nasceu em 19/08/1847, residente em Curitiba, consta ter escritório de advocacia na capital, em 1888; época em que escrevia para o jornal Dezenove de Dezembro; casado com Gabriella Elisa Biale, da qual tiveram 8 filhos, sendo um deles com o nome de Joaquim José Pedrosa (o terceiro da família); também chamado de Capitão; sua principal profissão foi Solicitador no fórum de Curitiba (provavelmente assumindo interinamente até mesmo o cargo de Prefeito - informação que está no site da ALEP) e ocupou outros cargos públicos, como promotor público da comarca de Curitiba, em 1891, foi deputado estadual do Paraná, nas legislaturas de 1892 e de 1894/95, agente de recenseamento, em 1911; mas sua principal atividade sempre foi a de Solicitador, até o final de sua vida; faleceu em Curitiba, em 04/06/1916, com 68 anos.
        Na Genealogia Paranaense, de Francisco Negrão, o autor parece não gostar muito de Joaquim José Pedrosa ao escrever o seguinte comentário sobre o mesmo: "Joaquim José Pedrosa, solicitador - advogou por muitos anos no fórum curitibano; sem ser um homem de grande cultura intelectual, era contudo um espírito esclarecido, tornando-se um rábula de valor e temido como chicanista que era" (Vol. 6, 1950, p. 76). Nem mesmo citou que ele foi deputado estadual.
        No obituário da mãe, Maria de Moura Pedrosa, falecida em 25/11/1902, no jornal A República, é possível perceber um pouco dos membros da família Pedrosa no início do século XX; enfim, uma família ligada ao poder público curitibano e paranaense e a cartório, como do genro Coronel lzaias Augusto Alves; outro exemplo, Maria de Moura Pedrosa era irmã do Desembargador Dr. Augusto Lobo de Moura.
        

segunda-feira, 17 de julho de 2023

21º Congresso Brasileiro de Sociologia em Belém do Pará


Alessandro Cavassin Alves, Belém do Pará

Entre os dias 11 a 14 de julho de 2023, participei do 21º Congresso Brasileiro de Sociologia, organizado pela SBS (Sociedade Brasileira de Sociologia), em Belém do Pará, na UFPA (Universidade Federal do Pará), às margens do rio Guamá. O Congresso de Sociologia teve como tema: Sociologias para pensar o contemporâneo.
Participei do GT 05: Família, Instituições e Poder, apresentando o artigo: Perfil dos Diretores Gerais dos Índios do Paraná no século XIX”. GT coordenado pelos professores Ricardo Costa de Oliveira (UFPR), José Marciano Monteiro (UFCG) e Mônica Helena H. S. Goulart (UTFPR). Momento importante de encontro e discussões no grupo de trabalho. E foram mais de 1700 participantes inscritos nas diversas modalidades de atividades durante o Congresso. Isso demonstra um pouco do potencial das Ciências Sociais e de se pensar o Brasil e o mundo. É necessário uma reflexão constante e ao mesmo tempo atenta sobre a sociedade e seus rumos, caminhos que são realizados por cada um, como diria Max Weber, em enfrentamento de estruturas mantidas por nós.
Minha percepção de Belém, dessa cidade amazônica, da floresta e seus rios; de suas diversas etnias indígenas, que você vai descobrindo conversando com as pessoas locais; o povo paraense; o carimbó; o urubu e a garça; muiraquitã; além de uma gastronomia bastante peculiar, com o açaí, castanha, peixes, jambu, entre tantas outras. E sua história colonial, com a fundação da cidade pelos portugueses, em 1616.
Aproveitei para visitar alguns lugares de Belém (o tempo limitado de um turista). Como o complexo Feliz Lusitânia. A visita guiada apresentou todo  o complexo de edificações de forma crítica, para se pensar o local não apenas em sua arquitetura portuguesa e demais influências europeias, mas também da perspectiva indígena e afrodescendente e das marcas "apagadas", quando se tem um olhar superficial, como o exemplo do muro dos cabanos (cabanagem), no Forte. O incrível mercado ver o peso. E a Estação das Docas.
Belém, ao mesmo tempo, é uma cidade de contrastes sociais, assim como o Brasil. Belém, para quem vem de fora, ajuda a pensar o contemporâneo, tema do Congresso de Sociologia. Nada mais importante do que a cidade ser sede da COP 30, em 2025.
O museu Emílio Goeldi, uma estrutura de ensino e extensão, uma das minhas referências durante o tempo da graduação em Ciências Sociais, na UFPR (1999-2003). Visitar esse museu, saber um pouco mais de sua história e produção científica foi relembrar um pouco de minha história e da importância de locais de divulgação da ciência no Brasil.
A Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré e todo o significado que a igreja e a festa do Círio de Nazaré representa para a população local.
O Theatro da Paz, nome dado em homenagem ao fim da Guerra do Paraguai, construído no período da borracha; a visita guiada no teatro é fantástica; e um teatro em plena atividade.
Passeio de barco para as ilhas e baía do Guajará. Fomos na ilha do Combú. Estar ao lado da Samaúma, árvore rainha da floresta amazônica. E me acompanhou nessa viagem de Curitiba a Belém minha esposa Gislaine (de avião, 2666 km; para quem for de carro, 3176 km).
Faltou tantas coisas ainda, como a ilha de Marajó e outras possibilidades de imersão nesta região amazônica. 

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Gabriel García Márquez - La increíble y triste historia de la cándida Eréndira y de su abuela desalmada

 Meu presente da Colômbia:


Ler Gabriel García Márquez, o colombiano Macondo, "La increíble y triste historia de la cándida Eréndira y de su abuela desalmada", em seus textos de 1961, 1968, 1970, 1972, em espanhol, foi uma experiência de ler o autor em sua língua materna. 

Quando minha irmã Giovana foi ao caribe colombiano, pedi que me trouxesse um livro de García Márquez. Presente real mágico.

É possível tentar compreender o significado do chamado realismo mágico do Gabo, quando as histórias vão acontecendo e coisas mirabolantes aparecem e desaparecem e as pessoas continuam a viver suas vidas; é um anjo de carne e osso; é uma moça aranha; é um cheiro que vem do mar; é um vendedor de milagres; é um senador; é um afogado que aparece; é um navio espanhol do tempo da colonização; enfim, até chegar ao último conto, da cândida Eréndira e sua avó desalmada, quando, de suas vidas, não sabemos diferenciar mais o real daquilo que Eréndira estava a viver. Ou de quantas Eréndiras e suas histórias que não poderiam ser reais, mas que acontecem a todo momento. Temos que ser um Ulises?

Obrigado Giovana, obrigado Gabo, por mostrarem que a vida está em aberto, são possibilidades infinitas, e que moralmente temos que nos posicionar.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Farol das Conchas, Ilha do Mel, Paranaguá

O farol foi construído em 1872 e faz parte da modernização do Paraná na segunda metade do século XIX, facilitando e garantindo maior segurança para a entrada dos portos de Paranaguá e Antonina, cada vez mais em expansão, tanto em relação ao comércio, como da erva-mate, como na chegada de imigrantes, e já para a futura construção da ferrovia Paranaguá - Curitiba, na década de 1880.

Interessante consultar o documento de 20/02/1862, do Arquivo Público do Paraná, sobre onde deveria ser construído o farol na Ilha do Mel. O local mais propício e escolhido foi o morro das conchas. Tal empreendimento foi concretizado 10 anos de depois.

A década de 1870 pode ser considerada uma época de estabilidade política no Brasil, apesar da crise econômica e de novas ideias geradas pela guerra contra o Paraguai. Período de predomínio dos políticos do Partido Conservador, entre eles, o Barão de Cotegipe, que era Ministro da Marinha na época da construção do farol. E no Paraná, destacava-se a família de Manoel Antônio Guimarães, futuro Visconde de Nácar, de Paranaguá.

 
 
Fotos de Alessandro Cavassin Alves. Ilha do Mel, 12/02/2023.

Reinado - O Senhor D. Pedro II, I.C. O Barão de Cotegipe, Ministro da Marinha, mandou construir este Pharol. Engenheiro Zozimo Barroso. Construtores, P&W MacLellan, Glascom, 1870.

Ao que se percebe, o engenheiro militar cearense Zozimo Braulio Barroso, um especialista em faróis, e que trabalhava também com a empresa escocesa P&W MacLellan, ficou responsável de erigir diversos faróis ao longo da costa brasileira neste período histórico.






domingo, 19 de fevereiro de 2023

Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, Ilha do Mel, Paranaguá, Paraná

A Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, na Ilha do Mel, Paranaguá, defende a entrada do porto desde 1769. Um exemplo do estilo português de defesa no Brasil colonial.

O Incidente Cormorant em 01/07/1850 (ou 29/06/1850) foi um dos episódios mais relevantes que envolveu a fortaleza, quando o navio inglês HMS Cormorant foi atacado a partir dos canhões da Ilha do Mel, porque o mesmo estava a rebocar alguns navios acusados de tráfico de escravizados, aprisionados no porto de Paranaguá, mas sem o consentimento das autoridades locais. Incidente que comento no livro: A Província do Paraná e sua Assembleia Legislativa (2015), na pág. 325, a partir do livro de Davi Carneiro, A história do incidente Cormoran (1950). 

Devido a esse incidente, as autoridades brasileiras logo aprovaram a Lei Eusébio de Queiroz em 04/09/1850 que praticamente extinguiu esse horrendo tráfico da qual o Paraná também era uma das portas de entrada, fazendo com que a fiscalização contra esses traficantes fosse mais eficaz. Eis a expressão: "saiu o tiro pela culatra".

Em visita a esta ilha e o forte em 12/02/2023 pude sentir um pouco da história do Paraná.

 
  
Fotos de Alessandro Cavassin Alves, Ilha do Mel, Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, Paranaguá, 12/02/2023.


sábado, 18 de fevereiro de 2023

Orgulho e Preconceito, de Jane Austen

 


O romance Orgulho e Preconceito de Jane Austen (Inglaterra, 1775 - 1817), publicado em 1813 (mas pronto já no final do século XVIII), trata da história de famílias inglesas de origem nobre que transitavam entre a vida na área rural e cidades, como a de Londres, mas, principalmente, trata do aspecto moral que envolvia o comportamento dessas famílias, dos pais para com os filhos, dos parentes e amigos, dos vizinhos, das festas, da questão da herança, dos casamentos e seus arranjos, dos soldados, dos criados e, principalmente, do comportamento feminino numa sociedade patriarcal. 

Como o livro traz a história das cinco irmãs Bennet e sua família, a perspectiva feminina é fortemente destacada e, neste sentido, pode-se perceber como a autora vai demonstrando como era ser mulher nesta sociedade e, ao mesmo tempo, as possibilidades de reflexão frente a esta situação de imposição de determinadas normas sociais a elas. Daí o destaque para a personagem Elizabeth Bennet, que apesar dos cuidados para que uma determinada ordem moral prevalecesse, ela insinua para outros valores, como a possibilidade da liberdade de escolhas por parte dela.

Destaco esse livro porque, quando se estuda a história dos séculos XVIII e XIX, em especial, das famílias de classe alta, esse romance pode apresentar de forma bastante clara como era o ambiente e como viviam as pessoas neste período histórico e como era a situação feminina, tendo como referência a Inglaterra, mas que não deixa de ser uma realidade também brasileira.

Outro ponto bastante importante do romance é a questão estratégica do casamento, condição da manutenção de um status social, muito mais importante do que a questão de que o casamento seria a realização da felicidade da mulher, da qual Jane Austen procura salientar, mas demonstrando essa dubiedade, casar para ser feliz ou casar por interesses econômicos.