sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Literatura e Sociologia

Certamente podemos compreender melhor a sociedade em que vivemos, ou uma outra cultura, através da literatura. Da mesma forma, a Sociologia, enquanto ciência, utilizando de metodologias, conceitos e teorias, nos ajuda a entender o mundo social da qual fazemos parte.

Assim, Literatura e Sociologia, portanto, podem ser complementares.

Quando terminei a leitura de "Caminhos cruzados", de Erico Verissimo, foi possível pensar nas diferentes condições sociais narradas pelo autor, através de seus diferentes personagens, isso devido a fatos sociais que os envolvem, num curto espaço de tempo de cinco dias (sábado, domingo, segunda, terça e quarta-feira), e na qual seus caminhos se cruzam, apesar das diferenças sociais e culturais, e a partir da grande cidade de Porto Alegre, na década de 1930 (o livro foi publicado em 1934). 

As diferentes condições sociais dos personagens do romance, nos fazem pensar em nossa condição social real, em nossa história cotidiana, por exemplo, no que pode nos acontecer ou o que podemos fazer num espaço de cinco dias, a partir da realidade que estamos inseridos. Da mesma forma, podemos pensar no que pode acontecer, em cinco dias, com os jovens sem emprego e drogados que passam pela minha rua diariamente; das famílias pobres e trabalhadoras do bairro;  da senhora aposentada que vive de um salário mínimo com sua filha trabalhadora; do clérigo da igreja; do casal que enriqueceu com seus negócios imobiliários, e tudo isso, numa mesma cidade; e ainda, o que cada um de nós irá ler, assistir e aprender; e, igualmente, estamos constantemente nos encontrando, uns aos outros, em atividades religiosas, nas escolas, no trânsito, na associação, numa festa, pelo trabalho, pela prestação de serviços, no comércio, e mesmo pela violência, enfim, os "caminhos cruzados", a que Erico Verissimo nomeia seu romance.

Voltando à Sociologia e sua relação com "Caminhos cruzados": como não observar as classes sociais, em termos econômicos, e suas possibilidades materiais de vida; a questão de gênero, em especial, o papel da mulher na sociedade da década de 1930; a questão moral, do comportamento, da alegria e tristeza, independente da fartura ou miséria; da questão cultural em cada família; do acesso à cultura erudita; entre tantos outros conceitos. Enfim, as relações sociais acontecem e estabelecem conexões, formando um todo. Quanto mais ciente destas conectividades, de suas possibilidades, de minhas possibilidades, melhor entendo o mundo social da qual estou inserido.

Enfim, como professor de Sociologia (no romance existe um personagem professor - não gostaria de ser como ele), procuro pensar como utilizar de um livro interessantíssimo, como "Caminhos cruzados" e sua história fictícia, com a realidade da qual estamos inseridos e que precisamos compreender melhor e, igualmente, utilizando dos conceitos sociológicos.

Historicamente, também, é possível pensar como foi a vida na década de 1930 nas diferentes cidades brasileiras, como Curitiba, como Itaperuçu, com seus personagens reais, em suas angústias e conquistas, em suas possibilidades culturais, com seus bens materiais etc.

Referência Bibliográfica:

VERISSIMO, Erico. Caminhos cruzados; ensaio introdutório de Mozart Pereira Soares. 21ª ed. Porto Alegre, Globo, 1978.

Viva o povo brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro

O presente texto deu origem a dois trabalhos, que foram apresentados no: 20º Congresso Brasileiros de Sociologia, como título: "A metodologia de pesquisa genealogia social utilizada na Sociologia e presente na Literatura" (2021), e no XII Seminário de Pesquisa - Teoria Literária, da Uniandrade, com o título: "A genealogia na Literatura e sua relação com a Sociologia" (2020).


Gostaria de compartilhar algumas impressões sobre o romance de João Ubaldo Ribeiro, Viva o povo brasileiro, publicado em 1984, período histórico de véspera do fim da ditadura militar no Brasil.

Destaco a interessante mistura de fatos históricos com o desenrolar da vida dos personagens criados por João Ubaldo Ribeiro. Por exemplo, a presença holandesa na Bahia no século XVII, o regime senhorial, as fazendas e a pérfida escravidão, os indígenas, os reis portugueses, a Igreja católica e os padres, as reduções jesuíticas e sua expulsão em 1759, o Marquês de Pombal, a Independência do Brasil, 1822, a visita do Imperador D. Pedro I e a Imperatriz Leopoldina na Bahia em março de 1826, sendo que em dezembro Leopoldina vem a falecer (viagem fatídica para Leopoldina, em especial pela presença da Titília no mesmo barco e, logo em outubro, ela recebe o título de Marquesa de Santos); o período regencial e suas revoltas, como a revolta dos malês, em Salvador, Bahia, 1835 (revolta que merece muita atenção no romance), a Sabinada (1837-1838, também na Bahia), a guerra dos Farrapos, 1835 a 1845, a maioridade de D. Pedro II, a guerra do Paraguai, 1864 a 1870, a guerra de Canudos, 1896 a 1897; (enfim, as revoltas citadas têm um aspecto central no desenvolvimento do romance), sobre o exército brasileiro, a proclamação da República, 1889, a era Vargas e a ditadura civil-militar; entre tantos outros fatos que o leitor pode encontrar, em especial a partir do local em que é ambientado a trama, na ilha de Itaparica, Bahia (ilha que também foi palco de uma das batalhas da independência, em janeiro de 1823). 
Como visto, o romance perpassa um longo período da história brasileira, entre os séculos XVII ao XX e a consequente formação do povo brasileiro. E, o paradoxo, do o povo brasileiro a sobreviver e a viver, por vezes, independente desses "grandes acontecimentos", como se não fizesse parte desta história oficial ou dela se enquadrasse, em especial quando derrotados.
Mas, o que gostaria de destacar é a questão genealógica presente no romance. A genealogia é fundamental para se compreender a longa história dos personagens e, portanto, do próprio Brasil.
Destaca-se a genealogia da ampla família brasileira do "Caboco Capiroba", filho de mãe índia e pai preto fugido que a aldeia acolheu; Capiroba é comedor de carne branca, em especial, holandês, de muitas mulheres e muitas filhas, capturado e morto na ilha de Itaparica, Bahia, em 1647, por fugir da redução e por insubordinação. Sua filha mais velha, Vu, que cuidava de um prisioneiro do pai, o holandês Heike Zernike, denominado Sinique, fica grávida do mesmo. Em 1721 nasce Dadinha, que viverá 100 anos, gangana, sua mãe foi vendida antes de desmamar, seu pai era negro, escravo, baleneiro, tinha os olhos claros, morreu no seu nascimento, provável filho de Sinique e Vu. Dadinha, bisneta do Caboco Capiroba, tem um filho temporão, Turíbio Cafubá, que tem muitos filhos e com muitas mulheres. Este filho temporão, provavelmente, teria como pai o negro Darissa da Bissínia, chegado entre 1770 ou 80, também insubordinado. Turíbio e Roxinha vão ter a filha Vevé, ou Daê ou Naê, chamada de Venância, menina linda, com a marca de estrela na testa, marca da família a gerações, estuprada pelo barão de Pirapuama, Perilo Ambrósio Góes Farinha, dono de fazendas e escravos em Itaparica, seu dono. Nasce Maria da Fé ou Dafé que, posteriormente, vê a mãe morrer por ter de defendê-la de estupro. Maria da Fé foi criada pelo negro Leléu (Leovigildo), que possui negócio próprio, dá educação a Maria em Salvador. Maria revolta-se com a vida, com o sistema, e se torna líder de um bando no século XIX, perseguida pelo governo, mito entre o povo, insubordinada, e tem um caso com o coronel do Exército, Patrício Macário, da qual nasce o filho Lourenço que continua as lutas sociais da mãe.
Enfim, a genealogia do povo brasileiro, sofrido, sem sobrenome, a superar as mazelas que lhes são impostas por uma elite econômica e intelectual extremamente preconceituosa. Mas, de uma força incrível.
Daí, paralelamente, a genealogia de Amleto Ferreira, o filho da negra professora Jesuína Ferreira (preceptora de Dafé) e do inglês John ou Henrique; Amleto era guarda-livros do barão de Pirapuama, enriquece com o seu trabalho e suas trapaças nos negócios; Amleto, mestiço, poderia ter sido o elemento novo na história brasileira (inclusive ele vê a força de sua gente), mas infelizmente prefere repetir os preconceitos e as atitudes racistas da elite escravocrata, prefere ser "branco", e compra um sobrenome, digno de sua origem: Amleto Henrique Nobre Ferreira-Dutton, quer embranquecer; é o novo sobrenome da família; e ele tem no casamento e no compadrio com os ricos, os elementos chaves para sua ascensão social e de seus filhos; e sua família rica chega ao século XX, muda-se para o Rio de Janeiro e para São Paulo, mas com os mesmos preconceitos do século anterior, e registrando sua genealogia orgulhosamente em livro (mas, adaptando a genealogia a seus interesses).
Exceção ao centenário filho de Amleto, Patrício Macário, coronel do Exército, falecido em Itaparica em 1939, guardião da Canastra, dos segredos da Irmandade, do Espírito do Homem, amante de Dafé e da comida baiana, aberto ao conhecimento que vem do povo brasileiro.
Enfim, tantas outras histórias maravilhosas ao longo do livro e que proporcionam reflexões para que possamos nos entender enquanto brasileiros e sermos menos preconceituosos. E a olhar para a nossa história a partir de seus personagens. De encontrar nossa genealogia. E cuidar ou admirar a mariposa curuquerê que de repente pousa em cada um de nós.
Por Alessandro Cavassin Alves

Referência
RIBEIRO, João Ubaldo. Viva o povo brasileiro. 5ªed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. Edição de bolso, 790 p.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Gaston de Cerjat e a Estrada de Ferro do Assunguy

O Decreto nº 298, de 27 de julho de 1906, do Governo do Paraná, concedeu a Gaston de Cerjat, ou a empresa que o mesmo organizasse, privilégios para a construção, uso e gozo da ferrovia Curitiba - Rio Branco do Sul.

Quem foi Gaston de Cerjat?

Gaston de Cerjat (n. Suíça, 1857 - f. França, Paris, 1935), casado com Henriette Van Denberg, em 1896. Engenheiro franco-suíço.

(Cf. Genealogia de Gaston de Cerjat: Disponível em: http://www.gen-gen.ch/de+CERJAT/Gaston/226311?CheckCookie=1. Acesso em: 11/12/2016).

Pelo jornal A República, publicado em Curitiba, foi possível acompanhar algumas das atividades de Gaston de Cerjat no Brasil (jornal disponível em: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx).

No ano de 1893 consta que o Sr. Dr. Gaston de Cerjat, engenheiro, morava em Curitiba. Era representante da Societé Dyle & Bacalan, com sede jurídica na capital do Paraná (e que tentou junto ao governo a concessão para a construção da ferrovia Curitiba - Assunguy, a partir de 1896) e Diretor da Compagnie General de Chemins de Fer Bréziliéns (A República, Curitiba, 04/01/1893). Portanto, é provável que Cerjat tenha vindo ao Brasil como alto funcionário da Compagnie que foi responsável pela construção da Estrada de Ferro Curitiba - Paranaguá inaugurada em 1885.

Entre 1894 a 1902 consta que foi Diretor da Estrada de Ferro do Paraná que permaneceu sob a administração da Compagnie General de Chemins de Fer Bréziliéns até o ano de 1902, quando o Governo Federal a incorporou ao patrimônio nacional pela importância de 91.569.110 francos (cf. KROETZ, 1985).

Como diretor da Estrada de Ferro do Paraná, Gaston de Cerjat viajou muitas vezes à capital federal e à Europa; em Curitiba, participava de importantes eventos sociais; era próximo de políticos paranaenses, como o Dr. Vicente Machado, Dr. João Cândido Ferreira, Dr. Francisco Xavier da Silva, de autoridades catarinenses e de políticos e funcionários do Governo Federal. E de outras personalidades, como embaixadores. Destaca-se, em especial, sua ligação com o empresário Percival Farquhar, na qual consta inúmeras trocas de correspondências entre os anos de 1909 e 1910 (cf. ESPIG, 2008).

Com o fim da Compagnie General de Chemins de Fer Bréziliéns, em 1904, Dr. Gaston de Cerjat aparece comprando 205 hectares de terras tidas como devolutas, no lugar denominado "Paredão", Fazenda Guaraúna, colônia Taquari, Comarca de Ponta Grossa (A República, 05/10/1904).

Dr. Gaston de Cerjat passou, também, a ser representante do Governo do Paraná em Paris. No ano de 1906, ele foi autorizado pelo Dr. João Cândido Ferreira (Vice-governador) a realizar um empréstimo externo com The Ethelburga Syndicate Limited, de Londres (A República, 15/02/1906) provavelmente para a construção da estrada de ferro da qual ele iria ser o responsável, entre Curitiba e Rio Branco; foi possível encontrar outras transações econômicas em que ele representou o Paraná na Europa.

E foi no dia 28/07/1906 que Cerjat assinou o contrato de início da construção do 1º trecho da Estrada de Ferro do Assunguy, de Curitiba com destino a Rocinha, Votuverava (atual Rio Branco do Sul), num total de 43.300m. sendo que a inauguração do início dos trabalhos aconteceram no dia 19/12/1906 - Conferir o contrato da concessão no Jornal A República (28/08/1906).

Em 1907, Gaston de Cerjat passa a fazer parte da diretoria da Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande (A República, 18/02/1907), mas, continuando com as obras da Estrada de Ferro do Assunguy. Dr. Gaston de Cerjat solicita ao Governo do Paraná a prorrogação do prazo de concessão de privilégios para 90 anos dessa ferrovia. Alguns deputados estaduais, como o sr. Celestino Junior (filho do ex-deputado provincial pelo Paraná, José Celestino de Oliveira), questionaram a concessão como uma das "mais onerosas para o Estado" (A República, 08/05/1907), bem como seu "zig-zagueante" traçado. Mas, a Assembleia Legislativa aprova a concessão. Nesse mesmo ano o concessionário Dr. Gaston de Cerjat foi autorizado a passar para a Companhia Estrada de Ferro Norte do Paraná os direitos e obrigações da mesma.

O trecho da ferrovia Curitiba - Rio Branco foi inaugurado no dia 28/02/1909 com grande festa pela população local e autoridades (A República, 01/03/1909).

No ano de 1910 a Companhia Estrada de Ferro Norte do Paraná foi incorporada pela Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande, sendo seu diretor o Dr. Gaston de Cerjat. Ele era o Diretor Geral da Brazil Railway Company (A República, 21/12/1910), que administrava estas ferrovias. Foi, também, superintendente da Ferrovia Madeira e Mamoré, em 1909; superintendente da Sorocabana Railway, em 1910. E, continuando as atividades na Ferrovia São Paulo - Rio Grande.

Porém, depois disto, seu nome desaparece do jornal paranaense A República [entre 1911 a 1929]. E, apenas, volta a surgir em 1929. É, provável, que tenha continuado suas atividades ligadas à direção das ferrovias no Brasil ou teria voltado para a Europa.

Em 1929, com 72 anos, Dr. Gaston de Cerjat consta como acionista e presidente da Companhia Agrícola, Florestal e de Estrada de Ferro "Monte Alegre", em Curitiba, junto com personalidades políticas como o senador Dr. Marins Alves de Camargo (A República, 27/04/1929). A Companhia foi criada para explorar recursos naturais na região de Tibagi, além de ser uma área para colonização. Mas, a Companhia veio a falir já em 1931. A Companhia se dispunha a explorar uma grande fazenda que pertenceu ao sesmeiro José Felix da Silva e sua esposa Onistarda, que depois, passou a seu neto Manoel Ignácio do Canto e Silva e seu genro Barão de Monte Carmello, Bonifácio José Baptista, que chegaram a ser deputados provinciais do Paraná.

Com a falência da Companhia, em 1931, os Irmãos Klabin compraram a fazenda do Governo do Paraná, em 1933.

Dr. Gaston de Cerjat foi certamente um dos mais importantes nomes da história das ferrovias no Paraná, sendo que sua influência foi fundamental para a realização da Ferrovia Curitiba - Rio Branco do Sul. Ele foi um grande articulador entre interesses privados e públicos na concretização de ferrovias, principalmente no sul do Brasil. E Dr. Gaston de Cerjat viveu um período de intenso desenvolvimento e suas consequências para o Brasil moderno.

Dr. Gaston de Cerjat faleceu em Paris, no dia 23/11/1935, com 78 anos; e a Assembleia Legislativa do Paraná, pelo deputado Caio Machado, filho do ex-governador Vicente Machado, propôs "um voto de pesar pelo seu passamento" (Jornal O Dia, Curitiba, 26/11/1935).

Para saber mais: 
Os paranaenses - Almira de Cerjat (centenário de nascimento em 2011) Disponível em: http://www.diarioinduscom.com/os-paranaenses-4-almira-de-cerjat-centenario-de-nascimento-em-2011/. Acesso em 11/12/2016.

Sobre as correspondências entre Gaston de Cerjat e Percival Farquhar:
ESPIG, Marcia Janete. (2008) Personagens do Contestado: Os turmeiros da estrada de ferro São Paulo - Rio Grande (1908-1915). Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/imagens/dossies/contestado/trabalhos/ESPIGMarciaJanete.pdf. Acesso em 11/12/2016.

Sobre as ferrovias no Paraná:
KROETZ, Lando Rogério. (1985) As estradas de ferro do Paraná, 1880-1940Disponível em: http://www.revistaferroviaria.com.br/upload/AS%20ESTRADAS%20DE%20FERRO%20DO%20PARAN%C3%81%201880-1940.pdf. Acesso em: 11/12/2016).

Texto elaborado por: Alessandro Cavassin Alves

Jornal O Dia, Curitiba, 26/11/1935


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Inauguração da Estrada de Ferro Curitiba - Rio Branco

Ponte de ferro na entrada da cidade de Rio Branco do Sul. O trem passava por cima. Foto: Alessandro Cavassin Alves
A inauguração da Estrada de ferro da Rocinha (Curitiba - Rio Branco do Sul), também denominada de Estrada de ferro do Assunguy, aconteceu no dia 28 de fevereiro de 1909. Ela está publicada no jornal "A República", de Curitiba, no dia 01 de março de 1909.

O jornal "A República" de Curitiba, no dia seguinte da inauguração da nova estrada de ferro Curitiba - Rio Branco, divulgava este fato como aquele que "ficará assinalado na história do progresso paranaense", ao chegar em Rio Branco o apito da "locomotiva anunciando à operosa população daquele belo e rico recanto do nosso território o início de uma nova fase de desenvolvimento comercial e agrícola". 

O trem saiu às 8 horas de Curitiba, trazendo o governador do Paraná Francisco Xavier da Silva, oficiais, imprensa, inclusive um jornalista italiano, banda musical e grande número de convidados. Fez parada na estação de Almirante Tamandaré, inaugurando-a, também. E fez sua "entrada triunfal na gare do Rio Branco (antiga Rocinha)" às 10 horas (apenas duas horas de viagem. E para voltar levaram apenas 1h30min.). A todos os visitantes encantou a chegada do trem, em especial ao passar por cima da belíssima ponte de ferro na entrada da cidade. "Foi um verdadeiro delírio", tendo inclusive queima de fogos (pelo jeito, tradição antiga em nossa região). 

Um fato curioso durante a inauguração foi um discurso inflamado do sr. Aldo Silva, representante do jornal Estado do Paraná, criticando o governo e os erros da nova estrada de ferro. 

HOJE, depois de 100 anos, esperamos ansiosamente a duplicação da Rodovia dos Minérios (que dependendo do horário, você leva quase uma hora e meia  para chegar, por exemplo, no shopping Estação) e que o trajeto da linha do trem seja remanejado para maior segurança de todos e, assim, o "progresso" continue a bater em nossa região. Afinal, assim como o jornalista Aldo Silva, filho do abolicionista e republicano paranaense, Albino José Silva (1850-1905), se não reclamarmos, nossa região será sempre esquecida.

Alessandro Cavassin Alves

sábado, 14 de setembro de 2013

OS PRIMEIROS VEREADORES DE VOTUVERAVA

O município de Votuverava (atual Rio Branco do Sul) foi emancipado politicamente em 3 de abril de 1871, pela Lei n.º 262.
No dia 15/out/1871 aconteceu a primeira eleição para vereadores de Votuverava, junto com o novo município Arraial Queimado (atual Bocaiúva do Sul), duas recém emancipadas vilas paranaenses. 
Votuverava compreendia uma longa extensão territorial, com várias localidades, como Votuverava, Assungui (local em que foi a sede da freguesia de 1861 a 1871), Itaperuçu, Santa Cruz, entre muitas outras. Uma dessas localidades, talvez a mais importante, era a nova colônia de imigrantes do Assunguy (atual Cerro Azul), fundada em 1860 pelo governo Imperial, na qual recebeu imigrantes de diversas etnias, como alemães, suíços, espanhóis, italianos, suecos, ingleses, entre outros. 
Dos primeiros vereadores eleitos de Votuverava, dois pertenciam à colônia do Assunguy, o tenente José Borges de Macedo (pai do Professor Manoel Borges de Macedo) e o Major Joaquim Severo Corrêa, que também será eleito o primeiro deputado desta região, com o objetivo de representar os interesses desta localidade na assembleia legislativa, nos anos de 1872 a 1875.  Os demais vereadores ou moravam no Assungui ou em Votuverava.


Primeiros Vereadores de Votuverava, 1872/1873

1ª câmara de vereadores - Votuverava
Votos
Partido
1. Capitão Antonio Jacintho Nóbrega
244
Conservador
2. Tenente José Borges de Macedo
241
"
3. Salvador de Christo Leite
239
"
4. Major Joaquim Severo Corrêa
239
"
5. Alferes João Baptista de Faria
238
"
6. Alferes Antonio da Costa Rosa
238
"
7. Francisco Lucas Carneiro
238
"
Suplentes


Benenicio Teixeira de Lara
15

Tenente Salvador da Costa Christo
14

Capitão João de Sant’Ana Costa Rosa
13

José Lourenço Martins
13

José da Costa Domingues
12

Antonio dos Santos Cordeiro
4

Seguem suplentes menos votados


Jornal Dezenove de Dezembro, 21/out/1871

Naquela época os eleitores poderiam votar em sete candidatos a vereador (número de vagas existentes). Hoje, podemos votar em apenas um candidato a vereador. Também, ainda não existia a figura do prefeito. As atividades de vereador não eram remuneradas. E havia apenas dois partidos políticos no Brasil Império, o Partido Conservador e o Partido Liberal. Todos os vencedores desta primeira legislatura eram do Partido Conservador.
Enfim, este fato nos apresenta que Rio Branco do Sul (Votuverava e região) já possui 142 anos de emancipação política em 2013. Que política era uma atividade de serviço para a comunidade, em época em que os serviços públicos ainda eram muito precários. E que o primeiro deputado desta região morava na atual localidade de Cerro Azul.

Contribuição: Alessandro Cavassin Alves

sábado, 3 de novembro de 2012

José Borges de Macedo e Manoel Borges de Macedo


Diretor Interino da Colônia do Assunguy
José Borges de Macedo (Filho) – (1836-1910)

José Borges de Macedo nasceu em 1836 e faleceu em 1910, na região de Curitiba. Casado com Maria do Carmo Floriano de Castro, nascida em 1838 e falecida em 1878. Tiveram 14 filhos, entre eles, o Professor Manoel Borges de Macedo – nome do Colégio Estadual Manoel Borges de Macedo, em Rio Branco do Sul, PR.
José Borges de Macedo é filho do Ajudante José Borges de Macedo, político de destaque no século XIX,  membro do Partido Liberal. Seu pai trabalhou pela emancipação política da Comarca de Paranaguá e Curitiba, então pertencentes a São Paulo. O Paraná se tornará uma Província independente em 1853. O pai foi camarista e presidente da Câmara de Curitiba, sendo seu prefeito em 1833 - período curto em que foi instituído o cargo de prefeito, mas logo extinto (NEGRÃO, F. Genealogia Paranaense. vol.6. Curitiba: Imprensa Paranaense, S.A., 1950, p.39-41; e vol.5, p.68-69). 
Para saber mais sobre José Borges de Macedo (o pai), considerado o primeiro Prefeito de Curitiba no período monárquico: acessar http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Borges_de_Macedo.
Tempo da Administração na Colônia do Assunguy e grau de influência sobre a colônia de José Borges de Macedo (Filho): Foi diretor da Colônia do Assunguy de 27/maio/1869 a 5/nov/1869 = 5 meses e 10 dias. Tinha forte influência sobre o destino da colônia, por morar na localidade desde 1865, ser professor e agente da Repartição das Terras. Ele assume interinamente no lugar do diretor Julio Luiz Parigot, que era francês.
Profissão/Escolaridade: José Borges de Macedo era professor de instrução primária; amanuense da Repartição de Terras; escrivão ajudante do diretor na colônia do Assunguy; diretor interino da colônia; e capitão.
Dados biográficos/carreira: Em 1858, era professor contratado da Cadeira Masculina, na Freguesia de Votuverava até 11/ago/1858, vencimento anual de 225U$000; a esposa D. Maria do Carmo Borges, também era professora em Votuverava para a cadeira feminina (PARANÁ, Relatório do Presidente da Província do Paraná, 1859, p.21).
Em 1859, nomeado pelo Presidente da Província do Paraná José Francisco Cardoso para o cargo de amanuense, na Repartição Especial das Terras, sendo aprovado pelo governo Imperial. (PARANÁ, op.cit., 1859); Consta como amanuense na Repartição das Terras, nos anos de 1862/63 (PARANÁ, op.cit., 1863, p.52).
Em 1865 é transferido para a colônia do Assunguy e passa a residir na localidade; é nomeado escrivão e ajudante do diretor da Colônia do Assunguy (PARANÁ, op.cit., 1865, p.64).
Em 1869, “Por ato de 3 de abril foi nomeado para o cargo de sub-inspetor das escolas do Assunguy” (PARANÁ, 1869, op.cit., p.10). E em 27/maio, assume como diretor interino da colônia até 5/nov/1869.
Em 26/set/1870, por ordem do Ministério da Agricultura, José Borges de Macedo foi exonerado do cargo de escrivão desta colônia, na qual foi nomeado em seu lugar Manoel do Nascimento Abreu (PARANÁ, op.cit., 1871, p.23).
Em 9/ago/1878, nomeado para 1ªseção na Secretaria de Governo do Paraná (PARANÁ, op.cit., 1881, p.127).
Em 1881 volta à colônia do Assunguy como escriturário e é exonerado em janeiro de 1882, devido a emancipação da colônia, agora como vila (com o fim da colônia, os funcionários foram todos exonerados ou transferidos). Em maio de 1882, atua, então, como Professor no turno noturno em Serro Azul.
Em 1908, já como capitão, José Borges de Macedo estava presente no momento da assinatura da ata de transferência da sede Votuverava para a localidade da Rocinha, denominando a nova sede de Vila Rio Branco; "Rocinha" era uma localidade em que a futura estação ferroviária iria ter seu ponto final e que foi inaugurada em 1/março/1909. A ata de instalação da Vila Rio Branco se deu no dia 6/abr/1908, com a presença de muitos políticos e personalidades da região de Serro Azul, Votuverava e Curitiba (http://www.raioxmayer.com.br/temas/temas002.php). A sua presença neste momento histórico de Rio Branco é muito significativo, demonstrando sua importância como cidadão de destaque na região do Vale do Ribeira.
Era prefeito de Rio Branco em 1908 o capitão Manoel da Silva Muller.
Em 1910, vem a falecer José Borges de Macedo (Filho) com 74 anos;

MANOEL BORGES DE MACEDO
Em 1910, era Capitão do 4º esquadrão, Manoel Borges de Macedo (DOU - Diário Oficial da União, 29/05/1910). 
Manoel Borges de Macedo era casado com sua prima Espirituosa Gomes de Castro, filha de Joaquim Gomes de Castro e de Pulcheria de Castro. Tiveram, também, 14 filhos (NEGRÃO, F. Genealogia Paranaense. vol. 6. Curitiba: Imprensa Paranaense, S.A., 1950, p.40), nesta região de Rio Branco do Sul e Serro Azul.
Manoel Borges de Macedo, seguindo também a profissão de seu pai, era Professor na Vila de Rio Branco. Em sua homenagem temos um Colégio Estadual e uma rua no centro de Rio Branco do Sul, com o seu nome.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Praça São Pedro Apóstolo em Itaperuçu

No dia 01 de julho de 2012, na festa de São Pedro e São Paulo, foi entronizada a imagem de São Pedro Apóstolo na praça central de Itaperuçu, que mede 1,80m. Esta praça e esta imagem são um marco simbolizando a longa tradição que existe em Itaperuçu de se comemorar o dia de seu padroeiro.

Não se sabe ao certo quem trouxe esta devoção a Itaperuçu e nem a data. Falta ainda avançar nas pesquisas sobre este assunto. O Livro Tombo da paróquia de Itaperuçu, iniciado na década de 1980, por Frei Aurelio Possani, diz que desde a década de 1930 já, Itaperuçu, tinha como padroeiro São Pedro Apóstolo. Mas, certamente, São Pedro é padroeiro desta localidade desde o século XIX, em que já havia moradores por aqui, como demonstra a Lista de Eleitores de 1853.

A cerimônia de entronização contou com a participação das autoridades políticas locais, do pároco Padre Frei Valdir Borges e do povo que lotou a praça São Pedro em Itaperuçu. E quem descobriu a placa comemorativa foram Padre Tadeu Camilo, vigário paroquial e Gerson Ceccon, prefeito municipal. Após, teve a Santa Missa, na própria praça, com a presença de aproximadamente 3 mil pessoas.

Antes da existência desta praça, havia apenas a Av. São Pedro, e em frente a Igreja Matriz, até a década de 1970, também existia um pequeno cemitério, que foi transferido para a localidade de Queimadinha, perto de Pombas.

Praça São Pedro Apóstolo, Itaperuçu, 01/07/2012

Praça São Pedro Apóstolo, Itaperuçu, 01/07/2012

São Pedro Apóstolo
São Pedro Apóstolo


Itaperuçu, Paraná

Prefeito Gerson Ceccon e Padre Tadeu Camilo


Em novembro de 2017 a praça foi removida a pedido dos moradores locais, voltando a ser parte da Av. São Pedro. A imagem de São Pedro foi entronizada no Cenáculo de Itaperuçu.